Julien Green inicia o seu livro praticamente com a seguinte frase: «A alma de uma grande cidade não se deixa apreender facilmente; é preciso, para se comunicar com ela, termo-nos aborrecido, termos de algum modo sofrido nos lugares que a circunscrevem.»
Julien Green, nasceu no século XX no 17.º bairro, teve muitas oportunidades para se aborrecer e sofrer em Paris, como aliás qualquer parisiense que conheça a sua cidade.
O autor abdica de dizer «uma palavra a respeito dos grandes monumentos e de todos os lugares acerca dos quais se esperaria uma descrição como deve ser». Alguém falou em Torre Eiffel? Esqueçam. Green sempre lhe teve um ódio de estimação e sonhava mesmo eliminá-la, deixá-la longe da vista, debaixo de água. A Paris que lhe interessa não é a oficial, não é a que vem nos guias. É a outra, a «cidade secreta», vedada aos turistas e mais inacessível do que em tempos foi a mítica Timbuctu.
O fio condutor do livro está numa atenção obsessiva aos pormenores que escapam a um primeiro olhar, uma pequena igreja românica (a de São Julião); as árvores que ainda vão subsistindo depois de todos os abates; as escadas e escadarias; uma tempestade sobre o Palais-Royal; cenas de miséria humana; o céu cinzento; a brancura de Notre-Dame; as ruínas do Trocadéro;
O fio condutor do livro está numa atenção obsessiva aos pormenores que escapam a um primeiro olhar, uma pequena igreja românica (a de São Julião); as árvores que ainda vão subsistindo depois de todos os abates; as escadas e escadarias; uma tempestade sobre o Palais-Royal; cenas de miséria humana; o céu cinzento; a brancura de Notre-Dame; as ruínas do Trocadéro;
Green é sobretudo um flâneur !
Na juventude, começou por ver Paris como um cérebro humano. Mais tarde mudou de ideias: «Agora já não seria a um cérebro que eu compararia Paris, mas a um coração, um coração deitado, atravessado pela sua grande artéria, o Sena.»
É entre o cérebro e o coração, que muitas das vezes nos perdemos tal e qual como nos perdemos numa cidade. Paris será sempre a cidade perfeita para nos perdermos e encontrar-nos para um final que só os amantes conseguem escrever...
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